As alminhas e o lixo

Ora o prédio das Alminhas, mais conhecido como o edíficio mais feínho que alguém já construíu numa zona onde os restantes são bem giros, não tem caixote do lixo. Daqueles verdinhos, que estão sempre a abarrotar porque naturalmente não têm capacidade para o lixo de um prédio inteiro. Ora como não há caixote para o nosso, as alminhas deitam os seus sacos do lixo no caixote que estiver mais perto- antes isso que deixar no meio da estrada, certo? Errado. É que os lisboetas têm um apego muito grande aos seus caixotes. Um sentido de posse em relação ao seu lixo, aos seus detritos, enfim e em suma, à sua merda. E ai de quem se atrever a usar um caixote alheio para depositar o lixo: temos histeria generalizada, temos discussão da grossa. Ora esta alminha hoje deitou fora o lixo num caixote que não era o seu. Mas entre deixá-lo no passeio e pô-lo no sítio onde pertence, bem educada como sou, optei pela segunda hipótese. Passado uns segundos, já estava eu a meio de uma manobra complicadíssima a bordo do meu bólide, ouvi bater ao de leve no meu vidro. Quem era? Um morador atento que me ameaçou com uma multa e mais não sei o quê porque eu tinha usado um caixote que não era o meu. Nem o dele, o que é mais engraçado. Eu não disse quase nada, porque tenho um ligeiro atraso e a moedinha só cai quando eu já não estou na presença das pessoas a quem eu podia dizer poucas e boas. E fui para o trabalho, mais do que irritada, com uma lista de brilhantes frases que podia ter proferido contra aquele ser que, claramente, não tem vida, nem interesses. Resultado: a partir de hoje vou passar a pôr o lixo SEMPRE naquele caixote, e recomendo que as restantes alminhas o façam também. É o do número 68. E quero ver quem é que me passa uma multa. Venham eles! Quantos são?